[Slaughter]

Ainda sobre a greve, espero que ela sirva pro paí­s abrir os olhos pra como ele é refém do transporte rodoviário de cargas e comece a discutir melhor a expansão hidroviária e reativação de uma imensidão de malhas ferroviárias abandonadas que temos por aí­.

Eu acho que não tem condição do paí­s implementar um projeto modal ferroviário atualmente, o estado foi totalmente saqueado e usado, e a reforma da previdência não rolou. Aliás, é bom o estado nem fazer mais nada do que já faz, o estado brasileiro só faz merda.

O que seria possí­vel, eu acho é abrir pra iniciativa privada fazer isso. Pegar todo mundo com interesse em transporte logí­stico, e bota pra fazer parceira. Tipo, transportar soja do MT até o Pará pra exportar, pega os agentes privados com interesse, faz a ferrovia, talvez joga uma grana estatal em troca de uma rota que passe perto de cidades importantes pra servir de modal, bota alguns trens de passageiros.

Mas aqui é tão cheio de regulação, que não dá pra fazer nada. Só o IBAMA faz um horror pra construir qualquer coisa.

[ajpvalente]

Um greve de camionistas é sempre algo de muito complicado. Há uns anos ocorreu uma cá em Portugal que deixou o paí­s muito assustado. O português comum é um comodista e um egoí­sta, que só quer conforto acima de tudo, mesmo que seja í s custas do próximo. Quer o seu automóvel, muita cerveja e vinho, e uma televisão para ver o futebol, o Big Brother e o Cristiano Ronaldo.

Quando a comida e outros géneros começaram a faltar nas prateleiras, e os combustí­veis nos postos de abastecimento, assustou-se a sério. O problema é que além de ficar assustado, o português nada fez. Falou, comentou, aborreceu-se com a situação, mas não mexeu um dedo para se preparar, não tomou medidas. Nós somos optimistas no pior sentido possí­vel, ou seja, somos preguiçosos optimistas - estamos sempre í  espera que uma situação difí­cil se resolva por ela própria, ou então que outros a resolvam por nós (especialmente o governo, ou a União Europeia).

Esta tendência viu-se perfeitamente por volta de 2010, quando a crise financeira atingiu fortemente a Europa. Que medidas é que o governo português tomou? Nada, a culpa é sempre do governo anterior. Que medidas é que os portugueses tomaram? Mudaram de canal na televisão, porque já estavam fartos de crise e estava a dar o Big Brother no outro canal. Uma vez mais, a ideia que o problema se resolveria por si mesmo, ou que o governo ou a União Europeia tratariam do assunto. Só que a UE também se viu apertada, e disse ao governo português que estava sozinho. O governo de repente ficou sem apoios, começou a dança dos ministros, e uma vez mais, a situação teve de ser resolvida por terceiros... pelo FMI, que durante alguns anos esteve sobre controlo quase completo de Portugal.

Finalmente a crise passou, e o governo e os portugueses voltaram a gastar como se o dinheiro vindo da União Europeia fosse infinito. Agora estão a aparecer novamente os sinais da crise, e o que é que o governo está a fazer? Nada, excepto dizer que a culpa é do governo anterior. O que é os portugueses estão a fazer? Mudar de canal na televisão, porque já estão fartos de ouvir em crise e no outro canal estão a falar do Ronaldo.

[Isaac]

Um greve de camionistas é sempre algo de muito complicado. Há uns anos ocorreu uma cá em Portugal que deixou o paí­s muito assustado. O português comum é um comodista e um egoí­sta, que só quer conforto acima de tudo, mesmo que seja í s custas do próximo. Quer o seu automóvel, muita cerveja e vinho, e uma televisão para ver o futebol, o Big Brother e o Cristiano Ronaldo.

Quando a comida e outros géneros começaram a faltar nas prateleiras, e os combustí­veis nos postos de abastecimento, assustou-se a sério. O problema é que além de ficar assustado, o português nada fez. Falou, comentou, aborreceu-se com a situação, mas não mexeu um dedo para se preparar, não tomou medidas. Nós somos optimistas no pior sentido possí­vel, ou seja, somos preguiçosos optimistas - estamos sempre í  espera que uma situação difí­cil se resolva por ela própria, ou então que outros a resolvam por nós (especialmente o governo, ou a União Europeia).

Esta tendência viu-se perfeitamente por volta de 2010, quando a crise financeira atingiu fortemente a Europa. Que medidas é que o governo português tomou? Nada, a culpa é sempre do governo anterior. Que medidas é que os portugueses tomaram? Mudaram de canal na televisão, porque já estavam fartos de crise e estava a dar o Big Brother no outro canal. Uma vez mais, a ideia que o problema se resolveria por si mesmo, ou que o governo ou a União Europeia tratariam do assunto. Só que a UE também se viu apertada, e disse ao governo português que estava sozinho. O governo de repente ficou sem apoios, começou a dança dos ministros, e uma vez mais, a situação teve de ser resolvida por terceiros... pelo FMI, que durante alguns anos esteve sobre controlo quase completo de Portugal.

Finalmente a crise passou, e o governo e os portugueses voltaram a gastar como se o dinheiro vindo da União Europeia fosse infinito. Agora estão a aparecer novamente os sinais da crise, e o que é que o governo está a fazer? Nada, excepto dizer que a culpa é do governo anterior. O que é os portugueses estão a fazer? Mudar de canal na televisão, porque já estão fartos de ouvir em crise e no outro canal estão a falar do Ronaldo.

Por aqui ouço falar muito bem da "geringonça" portuguesa.

[ajpvalente]

Se eu vejo mais uma referência a essa maldita geringonça, acho que parto o monitor í  martelada.

[Slaughter]

Meu irmão pensou em ir pra ai por um tempo, acho que até fiz tópico aqui na época.

Não to gostando dessas reivindicações não, pauta corporativista mesmo. Em suma, beneficia os caminhoneiros e fode o resto.  Representa o movimento?

Quer parar o paí­s, beleza. Mas para pra pedir uma Reforma Tributária urgente, por exemplo, ou uma Reforma da Previdência, ou redução dos privilégios dos marajás. Até mesmo uma Simplificação Tributária seria um avanço.

[ajpvalente]

Não to gostando dessas reivindicações não, pauta corporativista mesmo. Em suma, beneficia os caminhoneiros e fode o resto.  Representa o movimento?

Quer parar o paí­s, beleza. Mas para pra pedir uma Reforma Tributária urgente, por exemplo, ou uma Reforma da Previdência, ou redução dos privilégios dos marajás. Até mesmo uma Simplificação Tributária seria um avanço.

Aí­ está o problema. Por um lado, os profissionais da camionagem têm direito a fazer greves e reivindicações. Isso é algo de não negociável, que faz parte de qualquer regime democrático. Mas por outro lado, o sector em que operam é essencial ao funcionamento da sociedade. Pura e simplesmente não existem alternativas que sejam viáveis.

O transporte aéreo está dependente dos camiões para a distribuição original e final, enquanto que os caminhos de ferro e os barcos têm um alcance geográfico muito reduzido. Como já foi dito aqui, a rede ferroviária está na miséria com a maior parte das suas linhas encerradas, enquanto que canais no Brasil, pelo que vejo na Wikipédia, são poucos. No máximo ainda se usam com frequência na zona do Amazonas, onde a rede de estradas tem pouca penetração.

Nesse sentido, a greve dos camionistas é semelhante a uma greve dos profissionais de saúde ou de segurança, ou dos operários dos resí­duos urbanos. Em caso de uma greve dos médicos ou enfermeiros, por exemplo, a única alternativa é a medicina privada, í  qual poucos brasileiros têm acesso, e de qualquer forma não está preparada para um grande número de utentes. Em termos de segurança, bem... pelo que vejo certas partes do Brasil já são um caos mesmo com as forças da ordem, então sem elas o paí­s entrava no mundo do Mad Max. Seria preciso recorrer aos militares, que não sei se teriam números capazes de patrulhar decentemente todo o território. Enquanto que se os lixeiros fizerem greve, bem... quando eles fizeram cá greve em Portugal há uns anos atrás, os resultados foram bem visí­veis... e olfactí­veis.

[Duccini]

Tem um outro ponto, AJP: a greve foi capturada por um monte de agendas diversas oportunistas. Boa parte dos movimentos que a iniciaram já negociaram o término com o governo, mas agora virou o banquete dos abutres.

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[Noob-Eterno(-Saibot)]

Tem nego que tá lá parado querendo a volta da ditadura...

[Isaac]

Tem nego que tá lá parado querendo a volta da ditadura...

É de cair o cu da bunda, pra ver o quão fora de órbita alguns estão.

[Isaac]

Se eu vejo mais uma referência a essa maldita geringonça, acho que parto o monitor í  martelada.

Ué, não está sendo um exemplo para Europa em oposição a troica da UE?

[Duccini]

Sim, tem gente apoiando a greve pelos mais variados motivos, inclusive gente querendo que ela continue para haver intervenção das forças armadas, o que enfraqueceria o governo e daria moral pro exército. Virou farofa isso aí­.

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[ajpvalente]

Só existem três tipos de pessoas que pedem o regresso de um regime ditatorial: os imbecis, gente de memória curta, e os imbecis de memória curta. É sempre a mesma questão, as pessoas só se lembram dos "bons velhos tempos" sem se recordarem do medo em que viviam.

Por exemplo Há uns anos atrás li um comentário de uma alemã que tinha saudades dos tempos da Alemanha do Leste, porque vivia segura e estável... pelos vistos ela esqueceu-se de como era viver debaixo da Stasi, talvez a polí­cia secreta mais eficiente de todos os tempos. Cá em Portugal volta e meia também aparece um palerma a dizer que no tempo do Estado Novo é que se vivia bem, e que nunca houve realmente medo da polí­cia secreta... aqueles que morreram no campo de concentração português do Tarrafal discordariam, se pudessem.

Pelo que eu percebi, é assim no Brasil, em Portugal, Espanha (os espanhóis mais velhos ainda dizem "Esto con Franco no pasaba"), Itália, Alemanha, Chile, Argentina...