Há um tempo eu pensava assim, hoje eu sou mais do seguinte raciocínio:
Qualquer criança portuguesa sabe de cor a maior parte das personagens do Star Wars, mas não sequer o nome de um dos soldados portugueses que combateram - e morreram - durante a Primeira Guerra Mundial.
- Por que diabos saber sobre esses soldados e sobre uma guerra que passou (e que não era pra ser algo divertido) interessaria mais uma criança do que a fantasia de star wars? Crianças são movidas a fantasias, nós adultos, velhos e ranzinzas é que nos interessamos pelo passado. Aliás, pelo menos aqui o assunto das grandes guerras é dado ao final do período escolar, quando os adolescentes estão se tornando adultos e é perceptível como o interesse é maior nessa faixa etária.
Qualquer criança ou adolescente provavelmente sabe o nome das cidades e castelos todos na Guerra dos Tronos, mas duvido que saiba sequer quais são os castelos representados na sua própria bandeira!
- Eu sempre odiei história na escola. Odiava ter que literalmente decorar sobre os estilos de época, ficar escutando sobre a história da arte na europa e o caralho a quatro. Até o dia que fui praí e vi com meus próprios olhos tudo aquilo que me falavam na escola mas que não fazia ideia do que era. Aí SIM é que me deu interesse e um sentimento de aprendizado perdido por falta de literalmente tocar naquilo sobre o que estava escutando. Sinceramente? Percorri todo o seu país e das poucas vezes que vi crianças em excursões elas estavam distraídas enquanto um velho ou velha babona tagarelava (SEM PARAR PARA RESPIRAR!) sobre histórias que não as interessavam .O problema é na pedagogia, não do que há de disponível para ser visto. Leve as crianças para o castelo de í“bidos durante as festas temáticas e acrescente lições didáticas, o interesse precisa ser criado antes da "chatice" do conteúdo. Por aqui, por exemplo, estudar sobre o período colonial é um porre. Felizmente moro em um estado em que há cidades históricas com imensos acervos sobre a escravidão e o período do ciclo do ouro. Ver e fantasiar é preciso até mesmo aos adultos.
Provavelmente qualquer criança brasileira sabe perfeitamente quem foi o Optimus Prime, mas que conhece o Olavo Bilac, talvez o maior impulsionador da educação infantil no Brasil? Muitos brasileiros devem ter lido a porcaria do livro "Cinquenta Tons de Cinza", mas quantos leram "A Rosa do Povo", de Carlos Drummond de Andrade?
Optimus Prime é fantasia, é como religião, compra-se um action figure seu porque ele não existe, tem-se vontade de torná-lo real como acontece com os santos. Olavo Bilac é um falecido cujos feitos são interessantes apenas í queles cuja área de estudo tem relação com o mesmo. A única figura que me lembro de atrair interesse de qualquer brasileiro foi o barão de Mauá. Motivo? Porque se FANTASIA sobre como o Brasil seria melhor se não tivesse sido assassinado.
Cinquenta tons de cinza é fantasia (sexual, pra piorar), A rosa do povo literatura. E sobre literatura eu, desde criança, batia o pé na escola para dizer que me dessem a oportunidade de ler coisas mais interessantes, nunca me atraiu. Resultado: ao invés de me incentivar a ler (quem sabe hoje eu não fosse um cientista, adorava revistas sobre ciências, curiosidades...) fizeram meu pai gastar fortunas comprando livros que eu lia dinamicamente apenas para fazer provas.
Para que fique assente, eu não defendo um proteccionismo cultural. O que eu defendo é uma redução da influência externa na cultura nacional. Por exemplo, limitação no número de artigos í venda do Star Wars, e no número de cinemas em que aparece. Proibir a cultura é censura, e censura é como tentar apanhar areia com as mãos - a maior parte da areia foge de qualquer forma, e fica-se sempre com as mãos sujas.
Proibir o acesso í cultura externa também é censura, globalização já é palavra em desuso. Eu não ligo pra star wars, mas acho muito da hora meus amigos fanaticos se divertindo com isso. Pelo contrário, devemos é promover a nossa cultura, foi uma lição que aprendi aí com vocês. Não havia um colega meu que não fizesse seus projetos utilizando a cultura local como inspiração para o desenvolvimento de produtos. É o que eu vou começar a fazer em breve com alguns projetos autorais. E pasme, precisei perceber que há uma cultura inexistente no Brasil de produtos artesanais de um determinado ramo (muito presente nos EUA e nos países nórdicos) e vou me apropriar dela para promover a cultura e as madeiras do meu país internamente.
Esse discurso de EUA é o capeta do planeta é ultrapassado. Já tentaram inclusive fazer esse lance dos cinemas por aqui, mas o cinema nacional é tão chulo que você passa a gerar menos interesse pela cultura nacional. Eu ODEIO a exportação do funk e do carnaval como cultura brasileira. Até ontem o que eu fazia era ficar xingando pra caralho, falando que isso só representa uma parcela pífia da cultura... hoje eu sei que é o contrário: deixa quem gosta de dar o cu dar, reforce o que VOCíŠ GOSTA da própria cultura.
Deixe seus amigos assistirem e chuparem o pau uns dos outros enquanto falam de starwars e gastam o dinheiro com produtos da franquia, mas se pergunte o que você está fazendo para valorizar a sua cultura. Minha senhoria por exemplo era professora antes de se aposentar. Ela fazia questão de levar seus alunos para todos os lugares históricos da região de torres vedras e contar histórias (in situ) do passado, mostrando de onde vieram os ataques, quem eram, seus costumes... e ela fazia tudo isso muito bem, na cabeça de uma criança é facil imaginar que elas ficavam espantadas com os contos. Sei disso porque ela me levou nesses lugares e fez comigo como fez com seus alunos, achei sensacional.
Só reclamar e tentar coibições não resolve, isso é coisa de Venezuela.