Em primeiro lugar, não estou surpreendido. Uma agência de controlo interno tinha de encontrar alguma forma de monitorizar as formas de tecnologia que podiam ser utilizadas por criminosos. Se a CIA não fizesse isso, seria absolutamente ineficaz nos dias de hoje, o que é impensável. As velhas técnicas da Guerra Fria já não resultam - se a tecnologia avança, podemos criticar a CIA por fazer o mesmo?
Em segundo lugar, penso que a imprensa americana (e não só) está a exagerar grandemente o caso, de forma a conseguir mais leitores. Esta corrida ao sensacionalismo como forma de combater a concorrência enoja-me, e preocupa-me. No momento em que o profissionalismo desapareça da indústria jornalística, então teremos apenas tablóides. Um tablóide não instrui nem constrói cidadania, apenas a erode. "Poder" não é o mesmo que "fazer". Eu também podia pegar numa pedra da rua e partir uma janela... ou uma cabeça. Ter essa opção, essa tecnologia, não significa utilizá-la, e muito menos contra um cidadão qualquer. Se for utilizada contra criminosos e fizer o mundo melhor, então tem o meu apoio.
Em terceiro lugar, creio que a imprensa está a culpar demasiado o Obama. Ele foi presidente durante 8 anos, não Jesus Cristo. Nunca teve nem ganhou o poder da omipresência e omnisciência. É muito possível que tivesse apenas um conhecimento marginal das actividades da CIA, ou então não tinha poder suficiente para as parar, quer quisesse quer não que continuassem.
Em quarto lugar, existe uma obsessão com o conceito do "grande irmão". Os jornalistas, então, adoram-no, e utilizam-no sempre que podem, banalizando-o, amesquinhando-o. Tanto que até foi utilizado numa enorme série de programas de televisão idiotas, que apenas apelavam a um voyeurismo vergonhoso (existe outro tipo de voyeurismo?), para ganhar mais uns trocados. Duvido que a maior parte dos jornalistas saibam sequer o título do livro em que o conceito surge pela primeira vez, ou o contexto em que foi criado. Ainda menos terão pegado no livro para o ler. E quando digo ler, digo ler realmente, incluindo os anexos.