O PRIMEIRO ENCONTRO

Capítulo V - "Acaso"

O dia foi de encontros e tristeza. Miriel estava encarregada de ficar em casa para atender aos telefonemas de parentes mais distantes, enquanto os pais cuidavam dos preparativos para o funeral. Entre uma ligação e outra, a garota meditava sobre o sonho da noite anterior e pensava sobre as últimas palavras da doce velhinha. De noite, com os pais e alguns parentes mais próximos já em casa, a jovem recolheu-se para seu quarto e deitou-se, dormindo rapidamente. E sonhou.


O sol já estava baixo. Os raios de luz tornavam os céus vermelhos, enquanto as nuvens criavam formas maravilhosas de serem apreciadas. O rubro contrastava com o verde daqueles campos. A brisa batia no rosto de Miriel, encantada com a paisagem. Seus belos olhos azuis sorriram ao serem brindados com aquela visão. Sentada na grama fofa e úmida, ela avistou a silhueta de uma pessoa se aproximando, andando com o pôr-do-sol às suas costas, ao oeste, entre distantes montanhas e colinas. E continuou observando, sem se mover.


Após algum tempo, a silhueta tornou-se uma visão bem clara, arrepiando todo o corpo da garota e despertando-lhe uma incontrolável vontade de correr em sua direção. Miriel se levantou e olhou em volta: ao norte e oeste, as planícies se estendiam até montanhas imensas e colinas verdejantes; ao sul, um lago refletia o céu como um espelho perfeito; ao leste, enormes árvores formavam um bosque. A jovem de 16 anos trajando um vestido branco de seda correu até sua avó. Foi recebida com um carinhoso abraço:


- Eu te disse... O fim só existe para quem não acredita na existência de um novo começo... Você acreditou, por isso estou aqui – disse a sorridente velhinha à sua neta.


- Naquele momento eu não entendi, mas agora eu vejo... Nada é por acaso, certo?


- Depende... Cada um compreende o destino de uma forma...


- Sei... Mas eu tenho muitas perguntas a fazer e não sei se eu vou ter tempo pra todas... Nós vamos no ver mais vezes?


- Talvez... Este é apenas nosso primeiro encontro, Miriel... Deixemos os próximos por conta do “acaso”, tudo bem?


A jovem mirou no fundo dos olhos de sua avó e imediatamente soube: só dependia de si mesma a resposta para sua pergunta. Miriel e sua avó caminharam por alguns minutos, sempre em frente.
Próximo às grandes árvores do belo Verde do Violinista, um homem pálido e magro, com roupa e cabelos negros, se virou e caminhou para baixo da densa camada de folhas, onde a luz das estrelas não penetrava. E partiu.

Fim... Ou apenas um novo começo.

 

Escrito por Oswaldo Silvestre Jr.
oswaldosilvestre@uol.com.br