O
PRIMEIRO ENCONTRO
Capítulo
III - A Visitante
As entradas da Grande Casa se abriram e uma névoa podia ser notada do lado de fora. Como em um velho conto de terror, um senhor grande e imponente – com parte do rosto coberto por um capuz, impedindo a visão de seus olhos – entrou na mansão. Suas vestes, amarronzadas, o faziam semelhante a um monge ou algo assim, trazendo um enorme livro em uma das mãos. Miriel tentou recuar, mas às suas costas já estava o homem da sala ao lado – a face parecendo ainda mais cadavérica sob a luz das velas. Seus olhos, ainda mais brilhantes.
- Finalmente! Acabemos logo com isso, meu irmão. Onde está o outro
visitante? – Perguntou o anfitrião.
- A visitante, por pouco tempo – respondeu o “monge”, falando
de forma serena, porém firme. - E agora ela entra.
Ao escutar estas palavras, Miriel se espantou com a figura familiar adentrando
a Grande Casa: ao reconhecer sua avó, a garota sentiu uma incontrolável
vontade de correr em sua direção. Mas não conseguiu – estava
petrificada de medo e angústia, principalmente por notar o fato de não
sentir mais frio, apesar da imensa porta aberta à sua frente. Pior foi
perceber não estar mais vestindo o top vermelho nem o short jeans e sim
um elegante vestido branco de seda. Então ouviu:
- Miriel, você realmente está aqui! Isso é ótimo – sorria
a velhinha, trajando um pijama esbranquiçado e com pantufas rosas nos
pés. - Eu não estava acreditando no meu “guia turístico” aqui...
Engraçado, muitos não acreditam nele, mas pensando bem, que motivos
ele teria para pregar peças em alguém, não é mesmo?
- Hã, do que você... Você não tava no hospital? Os
médicos disseram... Minha mãe disse... – a garota não
conseguia completar seu raciocínio; a avó deveria estar internada
em um hospital! Havia lhe feito uma visita há dois dias...
- Calma, minha querida – dizia a avó, enquanto se aproximava da
jovem, estática –, você não está ficando maluca
ou coisa do tipo! Eu estava no hospital... Na verdade, ainda estou! Por pouco
tempo, é claro...
- Por pouco... O que isso quer dizer? Você não pode estar em dois
lugares ao mesmo tempo! A minha roupa...
- Acalme-se, garota! – interrompeu o anfitrião de negro. - Sua avó diz
a verdade, ela realmente está em um hospital neste momento. Geralmente,
não presencio as passagens ocorridas em minhas terras, porém preferi
não contrariar minha irmã. Vá, junte-se à sua avó.
Como se aguardasse somente àquelas palavras para agir, Miriel correu até a
velhinha. Foi recebida com um carinhoso abraço.
- Mas... Eu não consigo entender – a jovem já tinha lágrimas
nos olhos. - Você aqui e ao mesmo tempo no hospital... Vó, nós
estamos...
- Não! Ainda não... Eu, em breve, sim, mas você ainda tem
muito tempo... Certo? – Ao perguntar, lançou um olhar na direção
de seu “guia turístico”, mas não
obteve resposta alguma.
- Então, de qualquer maneira, quer dizer que acabou? É o fim? – Miriel
mirava a face da avó em um misto de desolação
e carinho.
- Escute bem, minha querida: o fim só existe para quem não acredita
na existência de um novo começo. Acredite
e eu nunca te deixarei, Miriel.
Escrito por Oswaldo
Silvestre Jr.
oswaldosilvestre@uol.com.br