O
PRIMEIRO ENCONTRO
Capítulo
II - A Grande Casa
A presença daquela mansão desconcertava a jovem: tinha certeza de estar na trilha correta, mas antes nada havia ali. A Grande Casa possuía paredes envelhecidas pelo tempo e pela unidade, enquanto as janelas e a porta eram grandiosas como as de antigos castelos. Tudo remetia ao passado, desde o estilo gótico da fachada às árvores a sua volta, acentuando o lado rústico da construção. Miriel sentiu medo por um instante, mas este logo se tornou uma vontade incontrolável de explorar a misteriosa casa – já estava em frente à enorme porta, entreaberta. Respirou fundo, fechou os olhos e entrou.
Ao abrir os olhos, a garota vislumbrou um salão decorado com tapeçarias
de diversas cores e tamanhos, tanto nas paredes quanto no chão. Duas
portas de madeira, uma à esquerda e outra à direita, separavam
esta de outras dependências, enquanto duas escadarias dispostas da mesma
forma levavam ao segundo andar. Pendurado ao centro, um enorme lustre com velas – muitas
delas apagadas. A pouca iluminação somava-se à de fora,
penetrando a Grande Casa pelas janelas. A mistura entre a luz amarelada das
velas e a branca do luar criava uma atmosfera singular. Miriel mal piscava.
Caminhando pela mansão, a jovem observava os grandes quadros com belas
molduras espalhados pelas paredes – e pouco iluminados pelo lustre ou
pela Lua –, além das muitas portas do andar superior. A casa parecia
ser bem maior vista por dentro. Quando se aproximava do centro do salão,
Miriel notou a porta à sua esquerda entreaberta. Desta vez, porém,
dirigiu-se confiante à sala ao lado, mas ao invadir a dependência
foi surpreendida. Não estava sozinha na Grande Casa.
Uma vistosa lareira iluminava a saleta. Pouco podia ser visto da decoração:
alguns quadros nas paredes, um tapete vermelho ao centro e uma poltrona negra.
A luz do fogo desenhava a silhueta de uma pessoa sentada na bela cadeira de
madeira revestida em couro. Era um homem pálido, aparentemente magro,
com roupas e cabelos negros; para a jovem, porém, o mais estranho
era os olhos do sujeito, radiantes como duas estrelas brilhantes... O
fulgor do
olhar do ser fez o corpo da jovem estremecer. Miriel recuou.
- Espere! – bradou o homem, sua voz trovejava e ecoava pelo aposento.
- Você não deve ir ainda.
- Me desculpa se eu invadi sua casa! – retrucou a jovem, tentando se
afastar, mas não encontrando forças para ir contra a vontade
do sujeito de negro. - Eu me perdi no meio dessa floresta e só queria
voltar por onde eu vim...
- Este caminho te levou ao coração do bosque, o belo Verde do
Violinista, como o chamamos. Sua “invasão” a esta casa já era
esperada. Breve meu irmão chegará com o outro visitante. Não
entendo o porquê de minha presença ser necessária... Minha
irmã deve desejar me provar ou “ensinar” algo, creio eu...
- Seu irmão, sua irmã... Me desculpa, isso deve ser um engano,
eu não pretendia vir aqui... Na verdade, eu nem ao menos sei como vim
parar aqui! Mas tudo bem, eu me viro... Com licença, desculpe o incômodo...
Antes de poder pensar em qualquer ação do homem à sua
frente, Miriel voou pela porta da saleta, já em direção à entrada
da Grande Casa. Porém, já próxima da saída, a maçaneta
gemeu. Por uma vez mais, Miriel paralisou.
Escrito por Oswaldo
Silvestre Jr.
oswaldosilvestre@uol.com.br