O
PRIMEIRO ENCONTRO
Capítulo I - Escolhas e Caminhos
O sol já estava baixo. Os raios de luz tornavam os céus vermelhos, enquanto as nuvens criavam formas maravilhosas de serem apreciadas. O rubro contrastava com o verde daqueles campos. A brisa batia no rosto de Miriel, encantada com a paisagem. Seus belos olhos azuis sorriram ao serem brindados com aquela visão. Sentada na grama fofa e úmida, ela se encontrava voltada para o pôr-do-sol ao oeste entre distantes montanhas e colinas. E assim permaneceu.
Após algum tempo, a brisa tornou-se um vento gélido, arrepiando
todo o corpo da garota e despertando-lhe uma incontrolável vontade de
procurar abrigo. Miriel se levantou e olhou em volta: ao norte e oeste, as
planícies se estendiam até montanhas imensas e colinas verdejantes;
ao sul, um lago refletia o céu como um espelho perfeito; ao leste, enormes árvores
formavam um possível bosque, talvez uma floresta. O vento já incomodava
bastante a jovem de 16 anos trajando apenas um top vermelho e um short jeans.
Como não conseguia enxergar nada além de terras sem fim ao norte
ou ao oeste e contornar o grande lago ao sul poderia ser muito desgastante,
optou por seguir para o leste, na esperança de atravessar o bosque e
encontrar alguma casa ou até cidade. Decidiu andar sempre em linha reta
para não se perder – caso desistisse do caminho, era só voltar
pela mesma trilha. E partiu.
Miriel caminhou por alguns minutos, sempre em frente. Já em meio às
grandes árvores resolveu apertar o passo, pois a noite finalmente chegara.
A luz das estrelas não penetrava a densa camada de folhas, deixando
a jovem na total escuridão. Mais alguns minutos andando e nada. O frio
aumentava. Sons estranhos indicavam a presença de animais tanto na terra
quanto no céu. As dúvidas de Miriel haviam acabado: estava em
uma floresta. Mas a garota não tinha medo – não iria recuar.
Não ainda.
Quanto mais adentrava a mata, mais variados os sons ficavam: a música
da floresta ecoava por todos os cantos, criando melodias até então
desconhecidas pela jovem. Os acordes se complementavam e do caos da vida a
canção surgia. Miriel apreciou por um tempo o espetáculo,
mas não se esquivou de seu objetivo. O cansaço já diminuía
o ritmo da garota, mas ela seguia em frente. Ainda assim, poucos metros foram
o suficiente para que desabasse no chão. O rosto alvo e os cabelos negros
tocaram o solo – o corpo mole não se movia. Miriel sentia-se morta,
mesmo sabendo estar viva. Logo, feras selvagens a encontrariam e ela não
teria forças para se defender. Era o fim.
Mas não vieram animais: mesmo permanecendo deitada por um bom tempo,
nada de mal aconteceu a Miriel. Quando voltou a sentir as pernas e já se
achava em condições de caminhar, se levantou, deu meia volta
e seguiu pela trilha feita até ali, mas na direção oposta.
Quanto mais se afastava da mata fechada, mais baixo os sons ficavam, até desaparecerem
por completo. Apesar da certeza de estar no caminho certo, a paisagem parecia
diferente aos olhos da jovem: as árvores aparentavam ser menores e mais
espaçadas umas das outras; agora, a luz das estrelas iluminava os passos
da garota e, não muito longe dali, algumas clareiras podiam ser vistas
facilmente. Mas nada poderia desviar Miriel de sua rota – e nada desviou.
Então surgiu a Grande Casa.
Escrito
por Oswaldo Silvestre Jr.
oswaldosilvestre@uol.com.br