Os Ritos de Taiguará



Capítulo VII - Eles

Havia acordado cedo aquela manhã de sexta-feira. Na verdade eu não tinha conseguido dormir direito. Tive vários pesadelos naquela noite, todos relacionados com os acontecimentos da noite anterior. Levantei, tomei banho e café, e segui para o estúdio.

Dessa forma seguiu-se o dia, normalmente, até que lá pras 11 horas eu recebi uma chamada no meu celular. Atendi, e escutei uma voz rouca e baixa, que eu nunca tinha ouvido antes na minha vida.

- Olá, Felipe. Você não me conhece e, pra falar a verdade, eu pouco sei sobre você.

- Quem está falando?

- O nome não é importante, tão pouco conveniente. Apenas saiba que eu estou a par da sua “aventura” de ontem à noite.

Olhei para o visor do celular para saber de que número vinha a chamada. Era um número estranho, o prefixo não batia com os da região, e também não era um prefixo de um telefone móvel.

- Não adianta tentar descobrir daonde estou falando. – falou-me a voz rouca – Não seria seguro pra você saber quem está falando, ou melhor, com quem você está lidando.

- Está me ameaçando por acaso?! – acabei me excedendo um pouco no tom de voz e pude perceber que a Érica fitou-me bastante desconfiada.

- Haha, ameaçando? Muito pelo contrário. É você quem está botando a sua própria vida em risco. Estou apenas lhe alertando para que desista do que está procurando. Você chamou muito a atenção ontem. Eles estão observando você. Nunca mais volte para aquele lugar de ontem, e principalmente, tome muito cuidado daqui pra frente. Você não é o primeiro a se envolver, e isso apenas lhe torna as coisas mais perigosas.

- Quem são “eles”? – perguntei.

Não houve resposta. A ligação tinha sido interrompida, e eu sabia que seria inútil ligar de volta.

Fiquei pensando durante um certo tempo, mas enfim voltei ao trabalho e assim o dia foi seguindo. Naquela tarde percebi que a Érica me tratava de forma estranha. E quando eram quatro horas da tarde, ela se levantou e foi embora. Julguei que ela estava indo indo para a faculdade, apesar de eu não saber ao certo qual era a grade horária das aulas dela.

O estúdio estava praticamente deserto. A maioria dos ilustradores já tinham ido embora, e mais uma vez Lucas não tinha comparecido.

Às oito horas juntei as minhas coisas e saí. Mas não ia para casa. Estava decidido a descobrir o que estava acontecendo. Entrei no meu carro e segui rumo ao morro que tinha subido no dia anterior.

Cheguei àquela rua e a segui, e depois de 5 minutos percorrendo aquela estrada escura, um clarão me cegou a vista.

Foi tudo muito súbito. Instintivamente enfiei o pé no freio, e quando comecei a conseguir enxergar alguma silhueta à minha frente, fui atingido violentamente por algum veículo, obviamente mais forte que o meu, já que meu carro foi arremessado contra a lateral do morro.

Atordoado, pude perceber que estavam mexendo no meu carro, mas desmaiei logo em seguida. Acordei cerca de meia hora depois, no mesmo local. Tentei dar a partida mas o carro não pegava. Fui obrigado a chamar um guincho. Incrivelmente quase 15 minutos após minha ligação, o guincho já estava lá. Voltei para a cidade e deixei o carro numa oficina.

Quando estava para sair, o guincheiro de dentro do caminhão falou, com um certo ar de ironia: “deveria ser mais cauteloso da próxima vez”. E seguiu embora.

Voltei a pé para casa, e quando lá cheguei, pude reconhecer uma pessoa esperando na porta do meu apartamento. Era a Érica.

Escrito por Felipe Duccini
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