Os Ritos de Taiguará



Capítulo XVIII - Angústia

 

Natasha me deu um demorado beijo, e saiu do carro. Começou a percorrer aquela viela que levava À sua casa, menos de 100m adiante. Nesse momento lembrei-me da primeira vez que fez isso, quando se virou e me contou o seu nome. Pouco mais de uma semana, e a minha vida tinha mudado completamente desde então.

Não sabia se estava raciocinando direito, era tudo surreal. Tinha medo dos meus sentimentos. Perguntava-me se as certezas que eu tinha não eram apenas fruto de uma nova paixão, que no calor dos acontecimentos, cegava-me e me impedia de analisar os fatos com calma. Iria agora voltar para o meu apartamento, pegar as coisas mais importantes, arrumar tudo, e simplesmente fugir com Natasha.

Da mesma forma estava Natasha indo arrumar as suas coisas, e tentar entrar em contato com seu irmão.

Essas dúvidas brotavam na minha mente, porém bastou-me um simples olhar dela, para que eu compreendesse o porquê de tal loucura.

Agora percebo claramente a natureza irresponsável, e ao mesmo tempo tão sincera, daquilo tudo. Se fosse hoje teria feito o mesmo, não duvivo.

Natasha entrou em casa. Dei a partida e voltei para o apartamento.

Pode parecer uma coisa muito simples, fugir, para aquele que sempre diz que fará isso, mas nunca se aventura de fato. A verdade é que assim que você se vê diante das coisas que terá de abandonar, e escolher o que carregará consigo, você percebe o quão dependente e materialista é. Além disso, não se pode simplesmente das as costas para certas responsabilidades. Pode ser fácil abandonar um emprego sem maiores explicações, mas como abandonar as pessoas que te amam e contam com você?

Então tentei fazer tudo da maneira mais responsável possível. Natasha iria me ligar as sete horas da noite, para assim ir eu buscá-la em um ponto de encontro que havíamos combinado. Houve, portanto, tempo razoável para ajeitar as coisas e preparar a minha “despedida” de Taiguará, sem deixar nenhum indicativo de para onde estávamos indo.

As sete horas chegaram e eu estava trêmulo, as mãos suando, a garganta seca. Andava para lá e para cá, conferindo o relógio de meio em meio minuto. O tempo passava. Como é horrível essa sensação de esperar por algo que não vem. Sentia vontade de ligar para ela, mas havíamos combinado que seria ela a ligar, e se não o fizesse, era porque algo estaria impedindo a nossa fuga, e ela me explicaria o que era o mais cedo possível.

19:30 e nada. Apenas uma ligação de uma pobre vendedora de cursos de inglês, a qual prefiro não comentar as graciosidades que teve de ouvir.

20:00, 20:30, 21:00, 22:00... eu não agüentava mais tal agonia. Estava cansado e paranóico. Ia à janela e ficava olhando o fraco movimento. E assim passou-se essa horrível noite, da qual odeio recordar, até que as duas horas da manhã dormi no sofá da sala, vencido pelo cansaço.

Antes das sete horas da manhã já estava desperto. Lutava contra a vontade de ligar para Natasha. Tinha de me manter calmo e preparado. E foi por volta das 8:30 que finalmente recebi um telefonema que viria a esclarecer o que estava havendo. Não era, entretanto, Natasha ao telefone.

- Felipe, me encontre agora na entrada da cidade, na rua Borges. Estarei dentro de um Peugeot 206 preto. Certifique-se de que não será seguido. Natasha foi raptada.

Escrito por Felipe Duccini
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