Os Ritos de Taiguará



Capítulo XIV - Explicações (Parte 1)

- E então, até onde você já foi com a Natasha?

Com tantas coisas para conversarmos, e Lucas puxava o assunto para isso. Era típico dele, mesmo nos momentos críticos ele mostrava uma quase que total despreocupação.

- Lucas, meu amigo, sem querer ser chato, mas não é bem sobre isso que temos que conversar...

- Na verdade até que é sim. Você não faz idéia do que significa para a Natasha ficar com você e se desprender do seu real papel nas nossas atividades.

- Ok, Lucas. Isso simplesmente não vai dar certo se você não me contar o que diabos acontece nessa cidade.

- Nessa cidade... digamos que não é apenas “nessa cidade”.

- O que está acontecendo, caramba? Eu sei que você faz parte de um culto...

- É, pode-se dizer que sim, apesar dessa palavra passar uma idéia errada do que realmente fazemos.

Nesse momento Lucas olhou para o livro que estava sobre a mesinha da minha sala. Era aquele livro sobre o folclore brasileiro. Pegou o livro e começou a folheá-lo.

- É incrível como tudo isso perdeu o valor, e vem caindo no esquecimento...

- Como? Está se referindo ao folclore? – perguntei.

- Não só o folclore como o próprio respeito pelas manifestações da natureza.

- Está dizendo que o folclore é uma manifestação da natureza?

- Tudo é uma manifestação da natureza. Nós somos. A vida é. Mas parece que o homem se esforça em esquecer isso. O homem, na sua arrogância e prepotência, acredita que pode controlar o fluxo da vida. Acredita que pode conseguir qualquer coisa através da tecnologia e se esquece de que na verdade nós todos viemos da natureza, e devemos respeita-la. O fato de pensar racionalmente não nos torna mais especiais que um macaco ou uma arara.

- Mas o que isso tem a ver?

- O que fazemos, Felipe, é nos importar com a preservação da natureza e de suas energias. O nosso “culto”, como você se referiu, é na verdade uma antiga sociedade que busca manter a comunhão do homem com a natureza.

- Então o que acontece aqui são rituais para que o homem continue ligado à natureza?

- Até que você definiu bem...

- Mas, espera! Então se é apenas isso, porque é tão perigoso pra mim tentar descobrir o que está acontecendo? Porque fui atacado? E o que eram aquelas coisas estranhas que eu vi naquela montanha?

- Calma, calma. Tudo a seu tempo. Infelizmente a nossa sociedade vem perdendo força. E isso aconteceu devido, entre outras coisas, à falta de comprometimento de muitos membros. Com o passar do tempo a sociedade foi adquirindo uma espécie de “medo do homem”, tal qual a própria natureza.

- A própria natureza?

- Sim, já lhe explico. A verdade é que a nossa sociedade está morrendo. E muitos membros tornaram-se mais radicais em relação a isso. O mais terrível que poderia acontecer hoje é a nossa sociedade ser reconhecida como uma espécie de seita, e sermos investigados. Isso acabaria de vez com tudo.

- Mas precisava mesmo terem batido no meu carro???

- O que aconteceu com você é que se viu no meio de um ritual celebrado por membros mais radicais. Existem suspeitas na nossa sociedade de que se formou nos últimos anos um grupo interno secreto, e a maioria desses membros radicais faria parte dele.

- Isso tem algo a ver com a morte do irmão da Natasha?

Lucas pensou bastante para responder:

- Veja bem, não sabemos se de fato existe esse grupo. Mas de qualquer forma, algo aconteceu na morte de Fabrício.

- E porque quase nada foi relatado nos jornais?

- Hehe isso é simples... muitas das pessoas mais influentes dessa região pertencem à Sociedade.

Fiquei um tempo em silêncio. Era muita coisa nova para mim, e muitas novas dúvidas iam surgindo, mas antes que as perguntasse, Lucas continuou:

- Existe, além disso, um outro grande perigo para você nesse envolvimento, e ele tem a ver com Natasha.

E naquele momento meu coração gelou.

Escrito por Felipe Duccini
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