Os Ritos de Taiguará



Capítulo XIII - O Casarão

Aquela mata era realmente sinistra. As árvores eram altas e densas, pouca iluminação conseguia romper as copas arborizadas. As pesadas chuvas que tinham caído deixavam o terreno bastante escorregadio, e preenchiam o ar com um cheiro forte, mas bastante agradável. Já estávamos caminhando a cerca de meia hora. Nunca tinha vindo para essa região da cidade. Ficava bem afastada, numa área onde praticamente não existia civilização.

A Natasha ia me guiando e eu me perguntava como é que ela sabia aquele caminho. Se dependesse de mim, já estaríamos perdidos faz tempo. Essa mata fazia aquela da Casa Destruída parecer um jardim botânico.

E foi quando ia perguntar à ela por quanto mais precisaríamos percorrer, que avistei o casarão. Era impressionante! No meio de toda aquela mata gótica abria-se uma clareira perfeitamente circular, medindo algo em torno de 200 metros de diâmetro. E no centro daquilo tudo, um casarão de dois andares erguia-se a nossa frente.

- Temos de esperar – disse a Natasha – Você não pode entrar lá, Felipe. Mais cedo ou mais tarde Lucas aparecerá, mas temos que tomar cuidado para não sermos vistos.

E esperar foi o que fizemos. Passou-se algo em torno de uma hora, quando percebi que uma pessoa estava saindo da casa. Mas não era Lucas. Era um velho, vestido com uma espécie de manto verde-escuro. Olhei para a Natasha e notei a expressão séria que estava em sua face. Até aquele momento ainda não havia pensado direito no que significava para ela ter deixado a família, para ficar comigo.

O velho veio em nossa direção. Comecei a suar frio e deitei o máximo possível contra o chão, mas a Natasha permanecia na mesma posição. Tentei puxá-la, mas ela fez um sinal para eu ficar tranqüilo. O velho então entrou na mata e passou do nosso lado, indo embora pela mesma trilha que tínhamos seguido.

- Não se preocupe, ele é cego.

- Como?? Só pode estar brincando... E como é que ele consegue caminhar tranquilamente, e sozinho, por aqui sem que tropece e caia de cara no chão?

Natasha mais uma vez não respondeu à minha pergunta, mas dessa vez pude notar que ela realmente sentiu vontade em conversar abertamente comigo.

O tempo foi passando e o sol já despontava forte no meio do céu. Tal como o velho, algumas outras pessoas haviam saído do casarão, e pelo que eu pude escutar do conversar de algumas, iriam todos se encontrar na entrada da floresta. Perguntei baixinho à Natasha o que aquilo significava, e ela disse se tratar de mera “formalidade”, mas que precisaríamos tomar cuidado na ora que fôssemos embora, para não sermos vistos.

E nesse momento, finalmente Lucas saía do casarão. E quando este passou ao nosso lado, eu disse:

- Da próxima vez que deixar um recado tão besta na minha secretária eletrônica, não conseguirá vir para essas reuniões nem de cadeira de rodas!

Lucas parou imediatamente, e permaneceu assim por uns cinco segundos.

- O que faz aqui? Droga! Não lhe falei que era perigoso pra você tentar descobrir o que está acontecendo? Te levarei embora por um caminho seguro. Se te pegarem, está frito.

Virou-se, mas quando fez isso a sua expressão foi de absoluta surpresa ao ver a Natasha junto de mim.

Por fim, retornou à sua tranqüila expressão que eu conhecia muito bem. E olhando para a Natasha, disse:

- Então foi por isso que não veio ontem – e começou a dar risadas – Ah meu Deus, isso porque eu disse pra você não se envolver, hein Felipe...

Mesmo sem saber bem com o que estava me envolvendo, comecei a rir também. De qualquer maneira, era ótimo saber que nada de ruim havia acontecido à Lucas.

- Mas vamos sair daqui – disse ele – Você não pode ser visto. Volte pra casa, mais tarde eu passo por lá para conversarmos.

Me despedi de Lucas e levei a Natasha para a casa dela. Quando chegamos perto da casa ela pediu para que eu a deixa-se por ali, para que não corrêssemos o risco de sermos vistos juntos.

- Pouco me importa! – disse eu – Que todos vejam mesmo. Não vamos ficar nos escondendo para sempre!

- Ah Felipe, quem dera fosse fácil assim...

Abracei-a e ela desceu do carro, seguindo o resto do caminho a pé.

Fui para o estúdio e passei o resto do dia trabalhando, mas aquilo já parecia não fazer mais o menor sentido para mim.

Quando deram as seis horas voltei para casa, e cerca de uma hora depois o interfone avisava a chegada de Lucas. E finalmente poderia eu conversar abertamente com ele e descobrir o que acontecia naquela cidade, e a relação de tudo isso com o passado de Lucas.

Escrito por Felipe Duccini
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