Os Ritos de Taiguará



Capítulo XI - E Finalmente...

Acho que eu estava tão esgotado mentalmente com tudo que ocorrera, que neste dia havia dormido muito mais que em todos os outros. Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi verificar a mensagem na secretária eletrônica para constatar que realmente Lucas tivesse deixado uma mensagem daquele tipo. “Talvez não nos encontremos nunca mais” Lucas tinha dito. Essa frase por si só já me deixava bastante preocupado, se levar em consideração com o que ele estava envolvido então...

Não pretendia sair em buscas malucas naquele domingo. Precisava descansar. A verdade é que tinha gostado de sonhar com a Natasha e estranhamente me sentia bem aquele dia, mesmo a despeito das coisas terríveis que aconteceram no dia anterior.

Chegou a tarde e resolvi sair um pouco de casa. Fui para o parque municipal da cidade refrescar o pensamento um pouco. Aquela se mostrou uma excelente idéia, pois pude refletir sobre a minha vinda pra Taiguará (algo que sinceramente eu ainda não tinha feito) e também pensar sobre o que iria fazer.

Não iria sair da cidade. Muito menos desistir de descobrir o que estava acontecendo. Já estava envolvido com aquilo e já tinha visto muita coisa para simplesmente dar as costas pra tudo. E além disso, o meu melhor amigo estava em risco. Como poderia me perdoar se fosse embora deixando-no para trás nessas condições?

- Porque está se envolvendo com tudo isso?

O meu corpo estremeceu. O coração passou a bater num ritmo alucinante e eu suava compulsivamente. Virei-me e lá estava ela, de frente pra mim. A sombra projetada na minha direção em virtude do Sol que se punha por detrás das montanhas.

- Natasha! Você se lembra... quer dizer, como você sabe...? – gaguejava vergonhosamente.

- Você não faz idéia do que acontece aqui, Felipe. O melhor para você é ir embora.

- É claro que não vou embora! Tem alguma coisa terrível acontecendo aqui e não vou sossegar até descobrir o que é. Um amigo meu está envolvido, e eu não vou deixar que algo terrível aconteça.

- Pare de se preocupar com Lucas! Ele já faz parte disso de uma forma irremediável. Você não pode fazer nada por ele.

- Como você...

- Não importa. Escute o que estou te dizendo. Se você ficar por aqui irá pagar muito caro.

- Agora que eu encontrei você é que não vou mesmo!

Na hora ficamos os dois emudecidos. No calor da discussão acabei não pensando antes de falar e o resultado era essa cena no mínimo embaraçosa. Por fim a Natasha, mais desarmada do que eu, sentou-se por sobre o gramado, e olhando para o Sol se pondo disse:

- Tudo o que eu queria era sair daqui. Fugir desta cidade horrível e seguir a minha própria vida. Sem ter que me preocupar com este culto idiota, e todos os maus que ele está trazendo.

- O que é este “culto” que você está dizendo? Tem a ver com aqueles rituais de magia negra que a gente fica sabendo de vez em quando, quando assiste aos noticiários?

- Magia negra? – riu ela – Até que é um termo interessante, “magia”. Mas não, não é bem isso o que acontece aqui.

- O que é então?

Ela olhou para mim desconfiada. Não sabia se contava ou não. Uma longa pausa se passou, mas por fim ela interrompeu o silêncio:

- Aquela vez que você me encontrou indo sozinha pra casa... Não sei se aquilo foi uma coisa boa. Mas a verdade é que eu gostei muito daquilo ter acontecido.

- No dia seguinte, eu fui até a sua casa. Queria encontrar você de novo.

- Eu sei.

E assim fomos conversando, naquele parque, com a escuridão cobrindo as montanhas e matas de Taiguará, e eu de alguma forma pressentindo que mais uma vez estavam sendo recomeçados os rituais deste culto bizarro. Uma fina chuva, mas que aos poucos ia ficando mais pesada, começou a cair, e foi aí que a Natasha disse:

- Felipe, tenho de ir. A minha família me espera. Não posso abandoná-los novamente, como fiz naquela noite em que nos conhecemos.

- Por favor, Natasha, não vá. Eu sei que você não quer participar disso. Fique comigo.

- Você não entende. Você não conhece a minha família. Não sabe o que isso implicaria. Seria perigosíssimo pra você se eu ficasse.

- Não me importo!

Ela me abraçou e me beijou.

- Tchau.

E foi embora.

Como eu estava frustrado! Finalmente tinha a reencontrado e ela tinha ido embora assim. E eu não fui capaz de fazer nada para que ela ficasse...

Fiquei ali, por mais ou menos uns 10 minutos me martirizando. Por fim, resolvi voltar pra casa. Mas quando me aproximei da saída do parque, avistei a Natasha logo ao lado do portão principal.

Ela correu em minha direção e me abraçou novamente. E chorando disse que não agüentava mais aquilo, e que não queria voltar para casa. Falei pra ela se acalmar, e que não deixaria ela ir embora dessa vez.

E naquele domingo chuvoso, passamos a noite juntos.

Escrito por Felipe Duccini
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